"Eu nunca aceitei a simplicidade do sentimento. Eu sempre quis entender
de onde vinha tanta loucura, tanta emoção. Eu nunca respeitei sua
banalidade, nunca entendi como pude ser tão escrava de uma vida que não
me dizia nada, não me aquietava em nada, não me preenchia, não me
planejava, não me findava.
Nós éramos sem começo, sem meio, sem fim, sem solução, sem motivo.
....Sinto falta da perdição involuntária que era congelar na sua
presença tão insignificante. Era a vida se mostrando mais poderosa do
que eu e minhas listas de certo e errado. Era a natureza me provando ser
mais óbvia do que todas as minhas crenças. Eu não mandava no que sentia
por você, eu não aceitava, não queria e, ainda assim, era inundada
diariamente por uma vida trezentas vezes maior que a minha. Eu te amava
por causa da vida e não por minha causa. E isso era lindo. Você era
lindo.
Simplesmente isso. Você, a pessoa que eu ainda vejo passando no corredor
e me levando embora, responsável por todas as minhas manhãs sem
esperança, noites sem aconchego, tardes sem beleza....
....Sinto falta de quando a imensa distância ainda me deixava te ver do
outro lado da rua, passando apressado com seus ombros perfeitos. Sinto
falta de lembrar que você me via tanto, que preferia fazer que não via
nada. Sinta falta da sua tristeza, disfarçada em arrogância, em não dar
conta, em não ter nem amor, nem vida, nem saco, nem músculos, nem medo,
nem alma suficientes para me reter.
Prometi não tentar entender e apenas sentir, sentir mais uma vez, sentir
apenas a falta de lamber suas coxas, a pele lisa, o joelho, a nuca, o
umbigo, a virilha, as sujeiras. Sinto falta do mistério que era amar a
última pessoa do mundo que eu amaria."
(Tati Bernardi)
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
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